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Uso de composto da maconha para emagrecer ganha força no Brasil


O canabidiol é um dos mais de 500 compostos encontrados na cannabis e, sem dúvida, o de maior interesse da ciência.(Foto: Reprodução)


Nos últimos tempos, cresceu o número de pacientes com diabetes e dores crônicas que passaram a chegar no consultório da nutróloga Marcia Tornavoi, em São Paulo, com uma característica em comum: eram obesos. A médica, então, decidiu receitar o canabidiol como tratamento complementar. E comprovou na prática um efeito colateral espetacular já documentado em diversos estudos internacionais: a perda de peso com o composto medicinal da cannabis.

O uso do canabidiol contra a obesidade está associado ao chamado sistema endocanabinoide que, descoberto há somente cerca de 20 anos, é o grande protagonista dessa perspectiva terapêutica. Trata-se de um grupo de moléculas mensageiras que atuam amplamente no organismo em diversos tecidos e órgãos, como sistema nervoso, esquelético, cardiorrespiratório, adiposo, hepático, gastrointestinal, pele, aparelho excretor e reprodutor entre outros.

“Quando esse sistema está descontrolado, dificulta a ação dos outros. O canabidiol o regula. Quando o sistema metabólico está em equilíbrio, diminui apetite, saciedade e desejo por comidas açucaradas, por exemplo. São ações conjugadas que o canabidiol acaba fazendo”, afirma a nutróloga, destacando ainda a ação do tratamento contra a ansiedade e questões hormonais.

Não é só isso. O canabidiol atua na leptina, hormônio produzido pelas células de gordura, que controla o apetite e saciedade. Dois principais receptores canabinoides são os chamados CB1, presentes principalmente no cérebro e sistema nervoso, e CB2, que ficam mais no sistema imune. Nas pessoas com obesidade, os CB1 se espalham pelo corpo, especialmente no tecido adiposo. Pesquisadores italianos da Università degli Studi della Campania Luigi Vanvitell, em Nápoles, na Itália, conduziram um estudo no qual indicam que o canabidiol poderia bloquear esses receptores, controlando, portanto, o apetite.

Uma outra linha de pesquisa indica que o canabidiol pode converter tecido adiposo branco em marrom, ou seja, músculos, melhorando metabolismo e aumentando o gasto energético, como mostra estudo feito pelo Departamento de Biotecnologia da Universidade Daegu, na Coreia do Sul.

A maior parte das pessoas (e muitos médicos) ainda não tem conhecimento de que a cannabis ajuda no processo de emagrecimento. Assim, os pacientes chegam com outros tipos de doença, como insônia, ansiedade, depressão, hipertensão e diabetes e têm a perda de peso como efeito colateral.

“Os canabinoides também trabalham no sistema que controla o resto todo, ajudando, assim a diminuir outras medicações e tudo vai voltando para um eixo melhor”, diz Tornavoi.

A médica Thais Perlingeiro, que tem formação em endocrinologia e em medicina canábica, usa o canabidiol de forma complementar aos medicamentos análogos de GLP 1 contra a obesidade, a classe de remédios emagrecedora mais moderna. O resultado é a perda de cerca de 10% do peso.

“Os resultados de perda de peso são maravilhosos. A medicação convencional provoca náusea e o canabidiol combate a náusea. O tratamento também é melhorado porque a obesidade tem muitos fatores envolvidos, de ansiedade, inflamação, insônia… Essa abordagem multifatorial é importante porque não dá para colocar só na conta de um receptor”, afirma.

Ainda não há estudos isolaram um grupo de pessoas com obesidade e trataram com canabidiol versus um grupo placebo e comparar o resultado. O neurocientista e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo, Renato Filev, explica que um dos obstáculos ainda existentes para as pesquisas com canabidiol é tentar cruzar informações sobre o sistema endocanabinoide, que é personalizado como uma impressão digital, às diversas moléculas da cannabis.

“A mesma enfermidade pode necessitar de perfis diferentes, concentrações diferentes, doses diferentes. Não é como a dipirona que 500 mg curam a dor de cabeça de 80% das pessoas. Tem nuances que dificultam essa estratégia. Por isso, atualmente o mais importante é que os médicos estejam preparados para analisar cada caso e fazer a prescrição individualizada”, diz.

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